— Vós rogais a Deus por todos. Rogai-Lhe que me tire deste mau ofício que trago, senão eu vos hei de matar.
Saindo dali, tornava a fazer o mesmo que dantes, e outra vez tornava a vir ao eremita, dizendo:
— Vós não quereis rogar a Deus por mim, pois hei de vos matar.
Tantas vezes fez isto, que uma vez veio decidido a matar o eremita. Diante dessa decisão, o eremita propôs:
— Já que me queres matar, tiremos primeiro ambos uma pedra que tenho sobre minha sepultura. Depois de morto, lançar-me-ás dentro sem muito trabalho.
Ele aceitou, e assim foram ambos erguer a pedra. Porém, enquanto o salteador trabalhava quanto podia para erguê-la, o ermitão trabalhava para que ela não se erguesse. E desta maneira não faziam nenhuma mudança na posição da pedra.
O salteador deu pela coisa, e disse:
— Do modo como vós me ajudais, como posso eu erguê-la? Eu levanto a minha parte, mas vós inutilizais o meu esforço.
Antes que ele prosseguisse, o ermitão explicou:
— E agora vamos ao que nos interessa. Que me adianta rogar a Deus por ti, pedindo-lhe que te tire do pecado e mau ofício que trazes, se tu não te queres tirar e estás muito de propósito perseverando nele?
(Theophilo Braga, "Contos tradicionais do Povo Português" - Magalhães e Moniz Editores, Porto)
Fonte: Blog Contos e Lendas da Era Medieval
Nenhum comentário:
Postar um comentário